Aquela que muitos consideram, uma especializada quadrilha de larápios, não pára de surpreender pelos tentáculos e táctica, muitas, financeiramente dantescas.
Por William Tonet
D e audição em audição, na Assembleia da República, em Portugal, os ex-homens fortes do BES, surgem com novas revelações, que nos levam a acreditar, termos andado, durante muito tempo enganados, melhor, copiosamente enganados, por uma espécie de corja endinheirada, que manipulava com maestria dados financeiros, para se beneficiar, defraudando clientes e o sistema bancário de vários países. Vistos como iluminados financeiros, transitavam com a máxima impunidade e imunidade pelos corredores do poder de diferentes países.
O grupo criou ao longo do percurso a ilusão de ser uma muralha sólida de betão financeiro, mas, afinal, nada mais eram que uma espécie de “santidade” mafiosa. Especialistas na exploração da debilidade bancária de alguns países, cujos líderes precisavam de um “esgoto legal” capaz de desviar dinheiro público, para alimentar contas bancárias privadas de corruptos e corruptores, trafegaram milhões e milhões de dólares e euros, entre Portugal, Angola, Venezuela, Guiné Equatorial, etc. Em alguns destes países tinham carta branca dos respectivos líderes, eles também, autênticos “desviadores cabriteiros” do dinheiro do erário público dos respectivos Estados.
Em muito pouco tempo, o mundo viu a rápida transformação de proletários em proprietários. Vorazes e insensíveis ao sofrimento dos respectivos povos, escancaram as portas do cofres bancários e, num toque de mágica, emergem “corruptamente” como milionários, bilionários e afins…
Em nome do pai, do filho e do espírito santo, amém, são autênticos larápios, que não se coíbem de mentir descaradamente, quer como falsos vendedores de ovos ou descendentes de famílias ricas. Invertebrada mentira.
Adiante.
Os angolanos cuja higiene mental ainda está preservada, ficaram estupefactos quando no dia 18 de Dezembro ouviram o ex-presidente do BES Angola (BESA), Álvaro Sobrinho dizer, em sede do parlamento português, ser oriundo de uma família rica, razão justificativa da proveniência dos milhões e milhões de dólares acumulados nos últimos anos, que lhe permitiram adquirir, milionariamente, um conjunto de empresas, que vão da comunicação social, industrial a clubes de futebol. É pura MENTIRA a proveniência ser familiar, disse ao F8, uma fonte que bem conhece a família.
Álvaro Sobrinho tem participações no capital de grupos de ‘media’, como a Newshold, o jornal i e o semanário Sol, bem como no Sporting. “Faço parte de uma família angolana com posses. Os meus pais compraram-me uma casa em Cascais e um carro e vim para Portugal estudar”, justificou, acrescentando: “Eu tenho os investimentos que eu tenho, mas não é o âmbito desta comissão. Quando esta comissão colocar estas perguntas a todas as pessoas que aqui vêm, que até podem ter mais do que eu, poderei responder”. Esquisita justificativa, pois se iniciou deveria fundamentar, para não deixar suspeições, porquanto os anos de trabalho não seriam bastantes para aquisição do seu actual património.
“Entre 2002 a 2012 trabalhei como presidente da Comissão Executiva do BESA e vice-presidente do Conselho de Administração do BESA. Saí da ESAF em finais de 2001 para começar com a operação [do BESA] que começou em 2002″, disse Álvaro Sobrinho.
A sua família, na realidade tinha pequenos negócios de sobrevivência, como a maioria dos autóctones angolanos, cuja receita mensal e anual, não dá para comprar a pronto um apartamento em Aveiras de Cima, na grande Lisboa. Nunca teve uma fábrica industrial, uma mina de diamantes, um poço de petróleo, uma empresa de camionagem, uma cadeia hoteleira, nada salvo o mais visível ser uma discoteca.
A actual ostentação de riqueza deriva do “cabritismo” bancário inspirado na lógica do regime de “roubar ser um dever revolucionário”, daí ser uma política institucional, com base nestes “cabos de guerra” bancários, transformar os dirigentes do regime em milionários, como base em ordens superiores, baixadas em papelinhos.
Em função das facilidades com que era orientado para “transitar” milhões de dólares, muitas vezes, diz-se, com chancela presidencial, para contas particulares de servidores públicos, incluindo militares generais, nada obstava a que pudesse utilizar a máxima de “ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão”.
Não é por mero acaso e isso, não disse por ser, na sua opinião, segredo bancário, que dois dos potenciais sócios do BESA, serem Manuel Hélder Vieira Dias Júnior Kopelipa e Leopoldino Fragoso do Nascimento, respectivamente chefe da Casa de Segurança do Presidente da República e assessor do chefe da Casa de Segurança, os generais no activo mais ricos do mundo, sem nunca terem inventado uma bala ou arma. Como morre de inveja o russo Kalashinikov, inventor da arma mais famosa do mundo a AKM.
No entanto, de uma coisa ficou a saber-se, pela voz de Sobrinho, “mais de três mil milhões de euros de crédito concedido pelo BES ao BESA, que não foram reembolsados, nunca saíram de Portugal”. Boa! Mas uma fonte bancária diz ter o dinheiro sido transferido para contas internacionais de alguns altos mandatários angolanos e alguns gestores do BES e BESA, com aval do Banco Nacional de Angola.
Daí que dizer isso, diante da Comissão Parlamentar de inquérito ao caso BES/GES, é muito pouco, quando é quase nada, afirmar, “dizer que este dinheiro saiu para financiar o BESA não é verdade”, porque “o dinheiro ficou no BES Portugal”. Pois ficou. Mas isso não é o mais importante. Importante é saber porque nunca denunciou e, mais grave, como foram feitas as aquisições das suas empresas em Portugal.
Foram através de transferências bancárias internacionais de Angola e registadas justificadamente no Banco de Portugal?
Não! Sobre isso o mutismo, ou a ladainha de “todas as operações com moeda estrangeira eram feitas, sempre, pelo BES”, pelo que os montantes em falta “nunca saíram do BES para o BESA”.
E como os deputados portugueses refastelaram-se neta justificativa, Álvaro Sobrinho, que se escondeu em muitos segredos, sobre Angola, foi tapando o sol com a peneira, ao dizer que “a concessão de crédito do BESA seguia regras próprias”, passando por um comité de crédito, onde tinha papel relevante uma das suas cunhadas.
E aqui chegados, fez um aparte para desancar em Ricardo Salgado, que havia detonado, também, em sede parlamentar o facto. “É no mínimo deselegante esta insinuação, pois a minha cunhada sempre esteve na área comercial e nunca mudou de área”, assegurou Sobrinho.
“As propostas, como em todos os bancos, eram feitas de maneira a que quando fosse tomada uma decisão, a gestão de risco do banco já tinha parecer, pelo que fica para a Comissão Executiva e o Conselho de Administração do BESA a sua aprovação”. E como ninguém perguntou quem eram os beneficiários e as garantias fornecidas, Álvaro Sobrinho escusou-se em dizer tratarem-se de dirigentes, exclusivamente, dirigentes do partido no poder em Angola.
“A linha do BES ao BESA é uma grande questão para toda a gente. Esta linha foi feita, se não me engano, em 2008. Iniciou-se com 1,5 mil milhões de dólares e tinha como finalidade a tomada firme, a subscrição, de um fundo de desenvolvimento do Estado angolano”, aqui o Estado confunde-se com o regime partidocrata, pois durante muitos anos o BESA foi um banco de cariz político, com uma carteira de activos de influência política secreta. Tanto que não fazia parte da sua lógica a proliferação de balcões.
Sobre este aspecto, Álvaro Sobrinho reservou-se ao silêncio, preferindo atirar mais uma laracha: “parte deste dinheiro foi usado para comprar obrigações do Estado, com uma maturidade de 10 anos. Em relação ao resto do dinheiro… o BESA pagou 700 milhões de dólares de juros por esta operação nos últimos três anos”.
Álvaro Sobrinho referiu também que o BESA tinha um “custo de financiamento de 10%. Parte desta linha foi feita via ‘trade finance’ a empresas portuguesas exportadoras. O BESA emitia as cartas de crédito, o BES confirmava-as e pagava e o BESA fazia as transferências”, sublinhou, justificando que “muitos desses clientes, além de exportadores, eram importadores”, mas também um “nicho” selectivo de empresários, na generalidade sócios de governantes do regime.
“O crédito ficava no BESA, mas o BES recebia o dinheiro. Mesmo a operação das obrigações, o dinheiro não saiu do BES para o BESA”, afirmou, sublinhando que foi directamente para o Banco Nacional de Angola (BNA). Mas quando a deputada Cecília Meireles, do CDS-PP, o questionou sobre as notícias que apontam para que 80% da carteira de crédito do BESA, correspondentes a cinco mil milhões de dólares, está em risco, Álvaro Sobrinho negou, com um lacónico; “a única coisa que eu posso dizer acerca dessa matéria é que não”, vincou.
Escusando-se igualmente a esclarecer, como foi possível ser accionista do Banco Valor, cuja tramitação ocorreu ainda estava em funções no BESA, bem como se o valor anual dos seus salários superava os dois milhões de euros. “Não lhe vou responder a essa pergunta do foro pessoal”, respondeu Sobrinho, a deputada Mariana Mortágua que não percebeu como um homem que foi gestor de banco, por melhor que fosse remunerado, tinha conseguido acumular uma fortuna pessoal como a que ele tem.
Tráfico de influência, roubo ou corrupção? Verdade ou mentira, tudo incrimina, neste momento o ex-homem forte do BESA, que nada falou, sobre as motivações que levaram, face ao rombo do BESA, a garantia do Presidente da República, José Eduardo dos Santos, de cerca de 4,5 mil milhões de dólares, talvez face ao “descaminho consciente” de empréstimos superiores a 5,7 mil milhões de dólares, mas sabe-se quem foram os beneficiários e a sua localização. Nos segredos dos deuses estão os nomes, de quem levou carradas de dinheiro, que nunca mais vai ser devolvido e a culpa vai morrer solteira, tal como José Eduardo dos Santos foi responsável pela falência do Banco CAP (Caixa Agro-Pecuária e Pescas).